Uma analise

07/12/2010

 

Instrumento de diagnóstico sócio-psicológico da sociedade contemporânea, a linguística nos possibilita denotar a formação geral de uma pessoa e de um grupo a que esta pertence. Desde a infância até o final da vida. O homem sempre está a procura de respostas que possam explicar a linguagem, pois ela o acompanha desde sempre, isto através das mais diversas formas de expressão. Desta forma, a linguística estuda a estrutura (como se forma, sua origem, sua decomposição) e a função (qual papel como elemento comum a uma coletividade de linguagem humana). É por isso que ela se diferencia da gramática tradicional, normativa, que estabelece regras de correção para o uso da linguagem verbal, oral ou escrita.

Dentro dessa ideia da linguagem como abstração pode-se realizar um minucioso estudo da mesma, interligando-a no tempo e no espaço, por meio dos signos orais e escritos da comunicação. Assim, é possível criar um elo de interação de linguagem entre expressões como o cinema, a música e a literatura. De acordo com Saussure a definição de signo funciona como uma união entre significante (imagem acústica) e significado (conceito), sendo o significante o suporte material do signo ou de uma expressão.

Essa ampla ideia do estudo da linguística abriu o campo para esta seguinte análise norteadora, que busca traçar um elo (aparentemente visível) entre três expressões distintas de arte, sob uma mesma ótica: o medo de crescer e o receio às mudanças.

O objeto de estudo principal é a obra da ficção alemã “A Metamorfose”, do escritor Franz Kafka, onde evidenciam-se fatores como a desesperança do ser, o pessimismo com relação ao futuro e a falta de respostas às questões mais simples e às mais profundas.

Enfim, uma obra agressiva, mordaz, de cunho verídico, e, acima de tudo, de resgate de valores e princípios. A leitura de Franz Kafka é extremamente atual, em que pese ter sido escrita em 1912, contextualizada no momento histórico da crise da “Bélle Époque” que antecede a Primeira Guerra Mundial, Kafka está em meio a uma crise existencial, religiosa e racional, convergindo com o que poderia se chamar de “crise da Modernidade”.

Em paralelo à obra de Kafka, oitenta anos mais tarde, o norte-americano Tom Waits aborda a mesma questão da juventude eterna na letra da música “I Dont Wanna Grow Up” (regravada pelos Ramones em 1995), tendo servido de base para o filme curta metragem de Jim Jarmusch. Momentos geniais.

A ligação entre Jim Jarmusch, o realizador, e Tom Waits, o músico/ator, é bastante profícua. A combinação de elementos tão diversos como a ênfase à eterna guerra dentro de cada um e a disposição caótica de um “anjo” e um “diabo” habitando um mesmo corpo, faz deste vídeo-clipe um ícone tanto para a “geração X”, que logo ir-se-ia com a morte de Kurt Cobain, como para os “screenagers” que logo haveriam de surgir na salas de bate papo virtuais. Sarcástico, cáustico e hilário, não obstante, temos uma música simples, cantando com voz rasgada e dona de uma harmonia sensacional.

 “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos.

– O que aconteceu comigo? — pensou.”

Juana Dobro

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